quinta-feira, 16 de abril de 2015

Uma resposta que nunca dei

Há uns tempos no meu blog [Pedagogia do Terror] escrevi um texto sobre o início da época balnear. Falava daquela primeira ida à praia quando me falta a coragem para tirar a roupa e atravessar o extenso areal até chegar à água. Escrevi em tom de brincadeira mas dizia a verdade. Quem não se encaixa no perfil que a sociedade impõe, pode sentir-se assim, desadequada, com vergonha, como se tivesse feito algo de terrivelmente mau. Quando li um comentário anónimo fiquei ainda com uma sensação pior: se não me sentia mal, devia sentir. Afinal, era gorda e ainda brincava com o assunto. Desleixada, chegou a escrever. Não publiquei esse comentário. Nem me passou pela cabeça responder. Nunca iria perceber... Já passou algum tempo e de vez enquando ainda me recordo daquela chapada que levei. Das chapadas que ainda vou levando. Lembrei-me disto hoje enquanto corria. Pensei o que acharia aquele anónimo se me visse ali. Se soubesse que há quatro anos me arrasto pela estrada fora. Se me visse atravessar a meta dos 21k. Se soubesse deste meu esforço para me tornar uma maratonista. Continuo a ser gorda, continuo a ter vergonha de atravessar o areal nos primeiros dias de praia mas não sou o retrato que me pintou. E se fosse? Merecia eu um buraco? Hoje pensei que devia ter respondido a este anónimo. Foram segundos. Não vale a pena. 
Eu sei quem sou, o que faço e o que mereço. Independentemente do retrato.

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