quarta-feira, 15 de abril de 2015

Inspirações

"... eu encorajo qualquer um a correr pelo menos uma maratona, devido ao seu forte impacto na mente e no espírito. No fim de contas, não passamos todos uma parte significativa das nossas vidas a duvidar de nós mesmos, pensando que não somos suficientemente bons, ou fortes, ou rijos? A maratona dá-nos a oportunidade de confrontarmos este tipo de hesitações. É o caminho para desconstruir a nossa própria essência, despir todas as nossas barreiras protetoras e expor a nossa alma íntima. A maratona diz-nos que vai doer, que nos irá deixar sem ânimo e derrotados como uma pilha sem vida na beira da estrada. (...) Então treinamos à séria. Dedicamo-nos de corpo e alma, sacrificamo-nos, ultrapassando incontáveis pequenos obstáculos pelo caminho. Damos tudo por tudo. No entanto sabemos que a maratona nos irá exigir ainda mais. Nos cantos mais recôndidos da alma uma voz pessimista diz, Não vais conseguir. Damos o nosso melhor para ignorar esta descrença em nós, mas a voz não se vai embora.
Na manhã da primeira maratona, a voz de dúvida multiplica-se, torna-se num inteiro coro. Pelo trigésimo quilómetro este coro está a gritar tão alto, que é tudo o que conseguimos ouvir. Os músculos doridos e fatigados imploram por uma paragem. Mas não paramos. Desta vez, ignoramos a voz da descrença, silenciamos os apelos derrotistas que nos dizem não sermos bons o suficiente, e damos apenas ouvidos à paixão dentro do nosso coração. Este desejo ardente apela a que nos mantenhamos a correr em frente, que continuemos a colocar um pé corajosamente à frente do outro, e descobrimos algures a força para o fazer.
A coragem assume várias formas. Neste dia descobrimos a coragem para continuar a tentar, não desistir, não importa quão feias as coisas se tornam. E elas tornam-se mesmo feias. Na marca do quilómetro 40, mal conseguimos ver o trajeto à nossa frente- a visão falha-nos à medida que a mente balança no limiar da inconsciência.
E, então, de repente, vislumbramos a linha de chegada como a um sonho. Um nó acumula-se na garganta enquanto percorremos estes passos finais. Agora estamos finalmente prontos para responder àquela voz teimosa com um retumbante, Oh sim, eu sou capaz!"

Dean Karnazes, Quem Corre Por Gosto


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