quarta-feira, 29 de abril de 2015

O sorriso dele foi o meu sorriso

Não sei que idade tinha mas nunca mais me esqueci. Foi na escola preparatória de Miraflores. Pela proximidade com o bairro da Pedreira dos Húngaros, convivia com diferentes estratos sociais. Objetivamente, a presença de crianças "pobres" era notada. Sei exatamente quando reparei nele. Tinha vestida uma camisola mas o notável era que uma das mangas estava levantada até ao cotovelo. Ele olhava para o seu pulso e sorria sozinho para um relógio novo. Cor luminosa que contrastava com o castanho da sua pele. Foi um dos melhores sorrisos que vi na vida. Pura felicidade. Um miúdo. Senti-me tão bem por ele que parece que ainda o consigo ver à minha frente. Talvez por me lembrar deste miúdo e do que despertou em mim, não consiga perceber como a felicidade de alguém não gera o mesmo sentimento nos outros. Amigos, conhecidos e afins tantas vezes não conseguem "sair de si" e partilhar a alegria de quem lhes é próximo. 
Decidi correr a maratona, não ganhei o EuroMilhões. Talvez torça o pé, entretanto. Posso lesionar o joelho. Quem sabe, farto-me deste esforço que é o plano de treinos e desisto na calada. Não sei o que vai acontecer. Posso chegar à linha de partida e apenas conseguir correr 2km. Não sei se vou ser bem sucedida. E mesmo que o seja, não vou ficar mais rica, loira, alta e boazona. Serei eu à mesma, com um pedaço de metal ao pescoço. Terei, eventualmente, uma sensação temporária de alegria e mais uma história para contar. Uma espécie de relógio luminoso no pulso. Só. Não percebo. Tenho pena, até. A incapacidade de empatizar com o outro, de partilhar alegrias, só nos amarga a vida. Só nos isola e condiciona a visão. 
Pobre, verdadeiramente pobre, não é só quem não tem dinheiro para tudo o que precisa e deseja. Pobre é, acima de tudo, quem não consegue sentir-se feliz com o que tem.
Hoje, começa a segunda fase do meu plano de treinos. São 186 k de exercício que combinam resistência e velocidade. As distâncias vão começar a aumentar e a passada deixará de ser confortável. A respiração e o coração serão o meu principal desafio. Sei que me custará muito. Mas vou continuar a tentar. É demasiado fácil, não o fazer. Ir pelo cinzento. 



2 comentários:

  1. Go Go Go...Vai ficar na sua "história de vida" esta conquista...Não desista por si e por nós!!!

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  2. Força Ana!

    No dia que chegares à meta da tua primeira maratona, vais ver como "uma sensação temporária de alegria e mais uma história para contar". Bem! Temporário não é! Posso-te garantir que nunca mais te vais esquecer desse dia, especialmente pela superação! Vale a pena, vale mesmo mas mesmo a pena!

    Abraço

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